Por:Everson Salazar
Compositor | Música
fev 2021
“O homem das melodias arrebatadoras”. – Ary Barroso –
De Pinzindim a Pixinguinha, mutação constante pela dificuldade de pronúncia e origem imprecisa, renderam a Alfredo da Rocha Vianna Filho diversos apelidos até chegar ao que imortalizou um dos pilares da música moderna brasileira: Pixinguinha. Desde menino, dizia ele, a avó o chamava de Pinzindim – apelido que, dali há algum tempo, o pesquisador Almirante contaria que significa “menino bom” em um dialeto africano.
Nascido no Rio de Janeiro, filho funcionário dos Correios e músico amador Alfredo da Rocha Vianna, conhecido por promover saraus que reuniam em sua casa grandes músicos, como os violonistas João Pernambuco, Quincas Laranjeira e Sátiro Bilhar, Candinho Trombone, o flautista Juca Kallut, o trompetista Luís de Souza, o soprista Irineu de Almeida e o maestro Heitor Villa-Lobos, entre outros. Pixinguinha aprendeu música na infância, tendo iniciado o aprendizado musical na escola e sendo acompanhado pelo professor e incentivador Irineu de Almeida, por vezes afirmou: “Esse menino vai longe”, conta o cavaquinista e pesquisador Henrique Cazes.
Aos onze anos Pixinguinha já tocava seu cavaquinho, quando ganha do seu pai uma flauta de presente e aí se inicia a vida profissional do mestre Pixinguinha, que ainda criança começou a tocar nas festas e bailes, encantando a todos que o ouvia tocar com tamanha destreza.
Integrou o conjunto Choro Carioca, grupo que tocou sua primeira composição “Lata de Leite” e que lhe proporciona a estreia fonográfica como flautista do grupo, atuando depois na orquestra do rancho carnavalesco Filhas das Jardineiras, onde conheceu os parceiros Ernesto dos Santos (Donga) e João Machado Guedes (João da Bahiana).
Entre os grupos musicais que Pixinguinha participou está o Conjunto de Pádua Machado, Orquestra do Teatro Rio Branco, Caxangá e Oito Batutas, com o qual realizou uma expedição musical em Minas Gerais e nordeste brasileiro, recebendo entusiasmados elogios pelas apresentações.
Como pensar em Pixinguinha e não lembrar de Carinhoso e vice versa? Talvez Carinhoso seja a mais famosa composição de Pixinguinha, que por “influências” do jazz era um tanto discriminada na época pela crítica. No entanto, suas inúmeras obras estão imortalizadas em poemas e versos que em meio a críticas, recebeu a aprovação de Ary Barroso, sendo descrito por ele como “o homem das melodias arrebatadoras”.
Nas serestas, serenatas, nos bailes da vida, na boca dos apaixonados, sempre se ouvirá “Carinhoso” e tive o privilégio de tocar essa melodia por muitas vezes com a Vitória Café Orchestra, ressaltando aqui um belo arranjo do maestro Duda, que já foi gravado por muitas orquestras e bandas no Brasil. Lamento, Vou Vivendo, Descendo a Serra entre outros belos choros, toquei juntamente com a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo acompanhando o violonista capixaba Maurício de Oliveira (in memoriam) e seu regional num belo concerto de choro, no Teatro Carlos Gomes.
Entre as muitas composições de Pixinguinha, as minhas prediletas são: Carinhoso, Lamento, Vou Vivendo, Um a Zero, Descendo a Serra, Rosa, Porque Sofres? Gavião Calçudo, Trombone Vadio, Naquele Tempo, entres outros.
O dia 23 de abril é considerado o Dia Nacional do Choro em homenagem ao dia do seu nascimento.
No dia 17 de fevereiro, vestido de seu terno marrom, acompanhado de seu filho Alfredinho, foi à Igreja de Nossa Senhora da Paz em Ipanema, batizar o filho do seu amigo Euclides Souza Lima, no momento em que se preparava para assinar o livro de presença da igreja, Pixinguinha cai fulminado por um infarto.
Às vésperas de completar 75 anos, o santo maior da MPB, cadeira cativa num bar carioca, entrou na imortalidade pela sacristia de uma igreja, a da Paz.
No vídeo abaixo você poderá apreciar um belo arranjo da música Carinhoso, interpretado pela Banda Mantiqueira, com participação do pianista capixaba Hércules Gomes.